A Terapia Ocupacional no Contexto de Humanização de Recém-Nascidos Internados em Unidade de Terapia Intensiva
O trabalho realizado por Terapeutas Ocupacionais dentro de UTI Neonatal visa uma assistência integral e humanizada dentro do espaço hospitalar proporcionando uma melhor qualidade de vida durante o processo de internação, para mulheres, gestantes, bebês e seus familiares, oferecendo suporte por meio da relação terapeuta-paciente-atividade.
Objetivo
Os objetivos deste trabalho visam o atendimento humanizado e tecnicamente capaz ao bebê e sua família dentro da Unidade Neonatal e que pode se estender após a alta; Estimular a prática do aleitamento materno e cuidados de higiene; Avaliar o crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor, diagnosticando precocemente os desvios, sequelas e situações clínicas de risco, identificando as que necessitem de intervenção; Possibilitar alta hospitalar precoce; São realizadas avaliações do crescimento, do desenvolvimento motor e cognitivo, visual, acompanhamento de estimulação precoce, não esquecendo de estimular principalmente o vínculo mãe-bebê. Os terapeutas também fazem o encaminhamento para outros serviços de reabilitação, quando necessários.
Consideramos que humanizar a assistência significa agregar, à eficiência técnica e científica, valores éticos, além de respeito e solidariedade ao ser humano. O planejamento da assistência deve sempre valorizar a vida humana e a cidadania, considerando, assim, as circunstâncias sociais, étnicas, educacionais e psíquicas que envolvem cada indivíduo. Deve ser pautada no contato humano, de forma acolhedora e sem juízo de valores e contemplar a integralidade do ser humano.
Quando o bebê nasce com problemas e não tem condições clínicas de permanecer com sua mãe é então encaminhado para a UTI.
O foco é o atendimento humanizado, respeitando a individualidade e a subjetividade de cada bebê e sua família. Quando o bebê é internado na UTI Neonatal, sua mãe é visitada pela equipe, até que possa ir vê-lo.
A equipe funciona como um elo, garantindo informações, esclarecendo dúvidas e preparando-a para o ambiente da UTI. Os terapeutas geralmente convidam os pais a participarem da internação do filho, o que é de extrema importância para que elabore os seus conflitos acerca do nascimento do bebê e comece a interagir com o mesmo, podendo reconhecê-lo como seu.
Os cuidados com o ambiente são fundamentais no tratamento deste bebê, desde redução de ruído, todas as lixeiras e portas emborrachadas o uso proibido de celulares (mesmo para médicos), garantia do ciclo dia/noite, com luz natural e iluminação artificial individualizada (Conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde sobre a "atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso - método canguru". Rev. Bras. Saude Mater. Infant., 2006, vol.6, no.4, p.427-436. ISSN 1519-3829).
Triagem
A população alvo são os recém-nascidos (RN) patológicos e os recém-nascidos pré-termos que apresentaram complicações Pré, Peri e Pós-Natal, apresentando risco para o desenvolvimento neuropsicomotor caracterizando-se como bebês com dificuldades de auto-organização, irritados, em constante estado de choro ou hipoativos.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito através da observação de movimentos e reações do bebê (como o bebê está naquele dia, se está atento à face humana, aos sons, quais são seus movimentos, quais reflexos apresenta, como reage ao toque, saber observar a dupla mãe-bebê: (como ocorre a interação, o estado da mãe, se ela pega o bebê, como manipula, como reage ao choro do bebê, como amamenta), observar durante os procedimentos de enfermagem: (como reage durante e após os procedimentos dolorosos, como reage durante a troca de fralda, durante a alimentação, enfim, toda a rotina diária do bebê).Após observar todos os fatos do nascimento até o presente momento, o terapeuta parte para o tratamento em si conforme a demanda da patologia.
Atendimento
Segundo Meyerhof, "a intervenção envolve tanto a inibição quanto a estimulação. O terapeuta deverá estruturar o ambiente de tal forma que o bebê consiga uma melhor auto-organização. Portanto, o objetivo da intervenção será tanto no sentido de promover o 'input' sensorial como a de proteger o bebê do excesso de estimulação, graduando os estímulos de acordo com o desenvolvimento adaptativo do neonato" (Meyerhof, 1997, p. 207).
É de suma importância observar as condições do bebê, verificando em que estado de consciência o bebê se encontra e é importante obter informações com a equipe de enfermagem sobre o dia do RN (se dormiu, se chorou, se a mãe compareceu à visita, quanto tempo ficou, horário da amamentação), pois é por meio dessas informações que nos baseamos para iniciar todo o atendimento.
Verificamos também o posicionamento do RN na incubadora ou no berço, se está aconchegado, organizado, em flexão de membros inferiores e superiores, lembrando a posição no útero. É importante rolinhos para contê-lo e assim diminuir o espaço dentro da incubadora ou do berço, para que o RN com estes procedimentos, se sinta mais protegido, aconchegado e principalmente calmo e confortável.
Realizamos estimulação tátil, visual e auditiva, orientando a mãe para a importância desses estímulos para o desenvolvimento. O suporte à mãe é importante para favorecer o vínculo mãe bebê, porque, muitas vezes, a mãe tem receio em tocar o bebê, acha que ele não a entende, acha que não pode pegá-lo, enfim; Essas dúvidas e dificuldades precisam ser esclarecidas para ajudá-la na relação com seu filho, pois bebês muito irritados podem provocar ansiedade nas mães, causando dificuldade de aconchego. O apoio do profissional é importante para ajudar a mãe nesse processo, para ajudar a aconchegar o bebê, pois esse aconchego favorece a recuperação do bebê no qual o contato direto com a mãe, substitui a incubadora hospitalar.
A equipe aproveita todas as oportunidades da visita materna, no sentido de motivar a sua participação nos cuidados do bebê e promover o fortalecimento do vínculo.(Clipping-Calor do corpo recupera bebês.27/10/2001.cidades.págC5).
Recebendo a Família na Unidade Neonatal
A família é estimulada a participar ativamente no tratamento da criança internada na UTI Neonatal, facilitando assim a formação de vínculos afetivos.
Os terapeutas visam a participação da família na UTI, pois isso favorece um apoio social e emocional aos pais que vivem esse momento difícil, melhora a interação entre a família e a equipe de saúde e possibilita conhecermos a situação psicossocial que envolve o recém-nascido e sua família e principalmente, integra o bebê à sua família.
Atendimento Individualizado à Família
O terapeuta ocupacional é um catalisador de informações, ou seja,nesse momento, podemos abordar, de forma individual, aspectos que envolvem a situação clínica do bebê, a participação da família ou outras questões, no que tange a compreensão e elucidação das informações técnicas com o objetivo de promover o acolhimento familiar e elucidar dúvidas sobre conduta e procedimentos, aumentando a confiança e capacitação da família com a rotina diária de atenção ao RN. (Andréia Yuriko Obana e Milena Oshiro-A Terapia Ocupacional com bebês de risco: reflexões sobre a clínica).
Preparação para alta
No preparo para o processo de alta, é importante orientar as mães ou pais para que se sintam seguros na realização das AVD's (banho, alimentação, troca), pois, a partir disso, serão as responsáveis pelos cuidados com o bebê.
Não podemos esquecer de envolver toda a família para que a mãe não seja a única cuidadora, sobrecarregando-se.
É preciso lembrar a mãe sobre a importância do brincar, já que esta é a atividade básica de toda criança, por isso é importante ter móbiles e brinquedos estimuladores no ambiente,sempre que possível e orientarmos a importância do brincar para o desenvolvimento neuropsicomotor e como a mãe pode estimular o bebê.
Considerações Finais
Sabe-se que a hospitalização pode prejudicar o RN, já que está submetido a uma rotina institucional que não prioriza o ritmo individual na realização das AVD's, ou seja, ele não pode ser alimentado na hora que deseja, ele tem de ser trocado no horário possível para a enfermagem, o horário do banho é no período da manhã entre a troca de plantão das auxiliares.
Winnicott (Takatori, 1999, p. 74), "nos fala da rotina completa do cuidado que deve ser pessoal e voltado para as características de cada bebê. Nessa rotina estão: carregar no colo, manipulação na hora do banho, vestir, despir, hora da alimentação, enfim, atividades básicas e presentes no cotidiano, levando em conta que o tônus muscular, a sensibilidade cutânea e a temperatura corpórea são diferentes em cada bebê.(MEYERHOF, P. G. O neonato de risco — (Proposta de intervenção no ambiente e no desenvolvimento. In: KUDO, A. M. et al. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1994. p. 20)
Junto com o bebê muitas vezes nasce também uma mãe, um pai, uma família que se reestrutura para recebê-lo. A humanização na UTI Neonatal, aliada à capacitação da equipe e à infra-estrutura adequada, é responsável pela pronta recuperação dos prematuros nas mais variadas patologias.
Fonte modificado de: http://www.webartigos.com/articles/4051/1/Terapia-Ocupacional-na-UTI-Neonatal/pagina1.html#ixzz1NMqPUdl4